Simplesmente Lu

Julho 26 2013

Rob Gray durante a CSEAR 2013. Foto: Sandro Ruggeri – Humana & Trad (Divulgação)


Uma das principais participações da terceira edição da Conferência Interamericana de Contabilidade Socioambiental, a “CSEAR South América 2013”, o pesquisador Rob Gray, do Reino Unido, veio pela primeira vez ao Norte participar do evento, que reuniu, na UFPA, dias 27 e 28 de junho, pesquisadores, estudantes e especialistas na área da Contabilidade empresarial em debates sobre sustentabilidade.


Rob Gray é o primeiro pesquisador a escrever um livro sobre Contabilidade Ambiental e autor de mais de 250 publicações sobre o tema. A “III CSEAR” congrega pesquisadores da área socioambiental, com ênfase no ramo de negócios. Sua finalidade é unir interesses e facilitar a formação de rede de pesquisas, visando ampliar as condições de sustentabilidade do planeta. Já a “CSEAR South America” é inspirada no CSEAR (Centre for Social and Environmental Accounting Research), um centro de pesquisas com cerca de 600 pesquisadores, de 30 países, que desenvolvem estudos em contabilidade social e ambiental, gestão ambiental, desenvolvimento sustentável e outros temas afins.


Criado em 1991, por Rob Gray, o CSEAR se tornou o mais importante centro mundial de pesquisas de Contabilidade Socioambiental, vinculado à Escola de Gestão da University of St. Andrews. O CSEAR é um centro de pesquisas com cerca de 600 pesquisadores de 30 países. A primeira edição da “CSEAR South America” aconteceu em 2009, na cidade do Rio de Janeiro, e foi promovida pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A segunda foi promovida em 2011 pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo – FEA-RP/USP.


A realização da conferência em Belém teve a coordenação geral de Leila Márcia Elias, membro do CSEAR SouthAmerica, que foi o realizador do evento, junto com a Universidade Federal do Pará (UFPA) e a Faculdade de Ciências Contábeis  (Facicon) da UFPA, com patrocínio do Governo do Estado, Banco da Amazônia, Faculdade Maurício de Nassau, Editora Atlas, Editora Saraiva e Conselho Regional de Contabilidade (CRC-PA).


 O CSEAR é um centro de pesquisa que é referência mundial em Contabilidade Socioambiental. O que o motivou a se dedicar ao tema?


ROB GRAY – “Duas coisas. Primeiro, se temos que encarar os desafios do desenvolvimento sustentável precisamos decidir o que é possível ser feito. Não o que deve ser feito, mas o que é possível. Cada um de nós precisa se dedicar ao que conhece e desenvolver esse conhecimento. Aí pode haver avanço. Daí me dei conta que as áreas de Contabilidade e Finanças são cruciais para o desenvolvimento sustentável. E eu queria fazer algo a respeito! Segundo, porque 20 anos atrás isso era um tema que ninguém levava a sério. Eu já estava estabelecido, mas conhecia muitas pessoas em outros países, que era desrespeitadas, pois se dedicavam a algo que não era considerado sério. Depois que virei um professor reconhecido, estava tudo certo; mas passei por muitos desses desrespeitos também. Agora eu nem ligo! Então eu montei um centro de pesquisas para agregar pesquisadores que se encontravam nessa situação: sofrendo desrespeito de seus colegas. Assim, eles teriam uma comunidade internacional a qual pertenceriam. Essa foi uma motivação simples que se tornou bem sucedida. Mais do que pensávamos”.


Quando se fala em Contabilidade Socioambiental o assunto leva a reflexões de como pessoas e empresas podem contribuir, efetivamente, com essa pauta, que é mundial. Como a CSEAR está contribuindo para despertar a sociedade para o assunto?


ROB GRAY – “Não concordo com a pergunta. Meu interesse como contador é em maneiras de mensurar, representar e avançar formas de contabilidade que não destruam o planeta e possam até encorajar formas diferentes de pensar o planeta e a sociedade. Então não tem nada a ver com contribuir com as empresas nem em empresas contribuírem para o desenvolvimento sustentável porque elas, definitivamente, não o fazem. Empresas e negócios contribuem para a insustentabilidade. Então a motivação é uma questão de encontrar formas de mostrar o impacto das organizações, especialmente as empresas. O CSEAR, primordialmente, junta professores e pesquisadores e os ajuda a desenvolver ideias aplicadas aos seus próprios países. Inicialmente, trabalhamos muito com as empresas, mas pessoas de negócios não gostam muito dos resultados”. 

 

Fale um pouco sobre o que há de novo na área da Contabilidade Socioambiental, sobre novidades que a conferência está mostrando.


ROB GRAY – “Novidade seria se as empresas e governos ouvissem os argumentos dos últimos 40 anos. Isso seria realmente novo, mas... Nosso maior problema, eu insisto, não é uma questão de estar certo ou errado, mas promover uma discussão aberta sobre problemas complexos e muito, muito difíceis! Governos e empresas têm se recusado a participar, e até permitir essas discussões, quando há conflitos entre os interesses dos negócios e os interesses da sociedade. Eu não iniciei sendo radical. Tenho me tornado mais radical à medida que o tempo passa. As ideias novas que introduzi nesta conferência dizem que desperdiçamos mais 30 anos pedindo a governos e empresas agirem inteligentemente e eles tem se recusado repetidamente. Eles se recusam a fazer o que deveriam fazer e até a fazer o que dizem fazer! Além disso, se recusam a prestar contas apropriadamente. Isso é lamentável. Então o que nos resta é construir maneiras e instrumentos de prestação de contas para a sociedade civil. São novos relatos, novas contas, com o uso de meios alternativos, como a internet, de produzir externamente relatos sobre as atividades dos governos e empresas. Poderia ser simples, não seria caro, mas as empresas não o farão. Então promovamos, nós mesmos, por eles, porque precisamos expor o que está acontecendo nos negócios.


Pesquisador Rob Gray. Foto: Sandro Ruggeri – Humana & Trad (FOTOS/Divulgação)


Qual a contribuição que a CSEAR poderá deixar para a Amazônia?


ROB GRAY – “Sobre a terceira conferência estar contribuindo e despertando debates, especialmente por estar localizada na Amazônia? A intenção do CSEAR é para que cada país, cada região, desenvolva sua própria cara: é pensar global e agir local. Não posso dizer ao Brasil ou Itália ou Austrália o que devem fazer. O Brasil estabeleceu sua comunidade CSEAR, suas conferências, para que, assim, professores, pesquisadores e interessados em levar a frente essas ideias tenham um grupo para acolhê-los e com quem discutir. Isso é essencial! É preciso ter pesquisadores e professores endereçando esses problemas com integridade, bravura e força para se posicionar contra negócios, contra professores e contra mentores que não gostem dessas ideias, se necessário. A continuidade da conferência CSEAR no Brasil é memorável. As pessoas podem começar a desenvolver suas ideias de como operacionalizar as soluções para os desafios a enfrentar. Claro que ser realizada na Amazônia foca a atenção para esses recursos fenomenais para a humanidade que se tem aqui e a dificuldade de se manter toda essa riqueza, por causa dos interesses focados nos negócios, mas não na sociedade como um todo. Nessa região também vemos a enorme desigualdade social que o desenvolvimento focado nos negócios vem criando. Há uma sustentabilidade espetacular. Um exemplo disso é a experiência da Escola Bosque (em Outeiro), não somente pela riqueza natural, mas também pelo trabalho de educação ambiental excepcional feito lá. Por outro lado fica muito claro quais são os problemas. Parece que os brasileiros estão conscientes de toda essa problemática: vide os protestos que estão ocorrendo por toda parte. É tempo! É admirável ver tudo isso ocorrendo.


COLABORAÇÃO: Yara Cintra – professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ (TRADUÇÃO); Sandro Ruggeri – Humana & Trad (FOTOS/Divulgação); e Leila Márcia Elias, coordenadora geral da III CSEAR SouthAmerica.

 

Ascom CSEAR 2013

 

Luciane Fiuza

publicado por Luciane Barros Fiuza de Mello às 15:44

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