Quem poderá afirmar que a tão sonhada harmonia perfeita é utopia?
Para o artista que recria formas, movimentos e realidades,
a perfeição encontra-se na busca para reinventar a vida. Lu.
Na foto: Natalia Makarova
Quem poderá afirmar que a tão sonhada harmonia perfeita é utopia?
Para o artista que recria formas, movimentos e realidades,
a perfeição encontra-se na busca para reinventar a vida. Lu.
Na foto: Natalia Makarova
“É com uma alegria tão profunda. É uma tal aleluia. Aleluia, grito eu, aleluia que se funde com o mais escuro uivo humano da dor de separação, mas é grito de felicidade diabólica. Porque ninguém me prende mais. Continuo com capacidade de raciocínio — já estudei matemática que é a loucura do raciocínio — mas agora quero o plasma — quero me alimentar diretamente da placenta. Tenho um pouco de medo: medo ainda de me entregar, pois o próximo instante é o desconhecido. O próximo instante é feito por mim? Ou se faz sozinho? Fazemo-lo juntos com a respiração (...)
Só no ato do amor — pela límpida abstração de estrela do que se sente — capta-se a incógnita do instante que é duramente cristalina e vibrante no ar e a vida é esse instante incontável, maior que o acontecimento em si: no amor o instante de impessoal jóia refulge no ar, glória estranha de corpo, matéria sensibilizada pelo arrepio dos instantes (...)
Meu tema é o instante? Meu tema de vida. Procuro estar a par dele, divido-me milhares de vezes em tantas vezes quanto os instantes que decorrem, fragmentária que sou e precários os momentos — só me comprometo com vida que nasça com o tempo e com ele cresça: só no tempo há espaço para mim (...)
É de uma pureza tal esse contato com o invisível núcleo da realidade (...). O mundo não tem ordem visível e eu só tenho a ordem da respiração. Deixo-me acontecer (...)”.
(Trechos de “Água Viva”, de Clarice Lispector)
Acabei de receber este banner, que tanto me sensibilizou. Compartilho com todos, pelo Dia Internacional da Mulher.
"O sentido está sempre no viés. Ou seja, para se compreender um discurso é importante se perguntar: o que ele não está querendo falar ao dizer isto? Ou: o que ele não está falando, quando está falando disso?". (ORLANDI, E. A Linguagem e seus funcionamentos: as formas do discurso. 4ª. Ed. Campinas: São Paulo, Pontes, 1996, p.275)