Simplesmente Lu

Dezembro 27 2006

10 DESEJÁVEIS VIRTUDES PARA A POLÍTICA CULTURAL DO PT NO ESTADO

</p>Quinta virtude: Os Sete Selos (ou “Quatro anos têm que compensar o que em 12 anos ficou faltando...”). </p></p>Texto: Hudson Andrade, ator e diretor da Companhia Teatral Nós Outros. </p></p>Blog do Hudson: Curia d'Arte</p></p>ATOR HUDSON  ANDRADE.jpg </p>

1.   HONESTIDADE
Eis que um homem saiu a caminhar. Tinha ele quatro anos para dar a volta ao
mundo, retornando ao ponto exato da partida. De si, um facho de luz, sapatos
confortáveis, um cajado onde se apoiasse, a roupa do corpo, mãos operosas e
uma cabeça fervilhando de idéias. Deveria atender a demanda de muitos,
dormir pouco, ouvir atentamente, falar com clareza. Essa talvez  a sua maior
virtude: suas palavras não teriam sentido diverso daquilo que expressavam e
por isso ele tinha sido escolhido para essa missão. Já outros o antecederam
e falharam exatamente neste ponto. O homem sabia – como seus antecessores –
que as pessoas gostavam de ouvir promessas, porque é da natureza humana ter
esperança; mas era seu dever ir além dos dizeres, não iludindo o povo com o
ouro falso da oratória vã e não comprometendo assim aquele que lhe enviara.


2.   SIMPLICIDADE
Consciente do poder que lhe fora conferido, o homem tivera dois caminhos a
escolher: deixar que o povo fosse até ele, que os receberia em dia e hora
acertados, atrás de uma grande mesa de madeira negra e lustrosa. Ricamente
vestido, ele sabia que muitos sequer levantariam os olhos na direção do seu
rosto, balbuciando meios pedidos e menosprezando suas próprias necessidades.
Por outra, sairia ele mesmo do templo. Nessa condição, estava certo do
escárnio de muitos que vêem a forma antes do fundo, e mais certo ainda de
que tudo o que lhe fosse dito seria a expressão da verdade, porque também é
da natureza dos homens se tratarem com irmãos quando se sentem acolhidos
entre os seus pares.


3.   EQÜIDADE
A ordem do seu senhor era de que servisse  a todos e a todos contemplasse.
Ele dissera ao homem que haveria grandes desejos, anseios equivocados,
necessidades reais, pequenos favores. Cada um deveria ser recebido e
justificado. Atendê-los significava buscar o interesse coletivo: um único e
soberbo edifício, ou vários menores e confortáveis, formando diversos
núcleos de trabalho e estudo? Pautas distribuídas pela relevância da obra,
ou pela pomba de seus participantes? Áreas públicas livres, limpas e
seguras, ou logradouros cercados de grades e taxas? Garantir o espaço de
cada um e os recursos necessários a sua manutenção era um trabalho complexo, mas perfeitamente exeqüível.


4.   SOLIDARIEDADE
Se é verdade que tempo é posto, é igualmente verdade que se alguém, ou grupo não receber oportunidades, nunca terá adquirido experiência bastante.
O homem então precisaria dar chances a todos e premiá-los pelos seus
esforços e méritos. Algumas decisões não pereceriam justas. Todas seriam
questionadas, por ser ainda da natureza humana pedir mais do que precisa e
colher onde não plantou (e isso não é privilégio dos menos humildes!), mas
sua decisão seria acatada, não que ele fosse infalível – porque humano –,
mas porque o precedia a fama de reto e justo.


5.   RESPONSABILIDADE
Firmemente preso à cintura o homem levava um saco de couro cru. Nas dobras
da roupa, papel e pena. No saco, parte do erário real que se destinava às
suas múltiplas atividades, que eram cuidadosamente registradas. As moedas
tinham uso variado, mas um único destino: tornar o povo mais ciente de si
enquanto cidadão. Como um lavrador, o homem espalhou livros, mapas,
tratados, códigos; mandou construir salas de estudo e trabalho, bibliotecas,
móveis, instrumentos musicais, peças de calçado e vestuário. Distribuiu
tintas, telas, pincéis e sapatilhas. Deu ainda condições de uso aos espaços
existentes, seja por equipamentos, seja por recursos humanos qualificados e
dedicados.
Através de edital afixado em placa pública, qualquer pessoa poderia
concorrer à ajuda real, reforçada por súditos abastados e zelosos do seu
país, por entenderem que o povo letrado e culto é mais livre e mais feliz. E
eram os próprios financiadores que decidiam com quanto e a quem iriam
auxiliar.
Em cada cidade havia um festival e bastava dobrar uma esquina para ser
tomado pela música, poesia e teatro. E mesmo na maior festa religiosa do
reino, quando cada grupo homenageava a padroeira conforme sua própria
filosofia, havia um cuidado especial do senhor – não sem alguns olhares de
esguelha! – para um grande cortejo promovido pelos artistas. E era tão belo
e verdadeiro o espetáculo que ele ficou conhecido por todo o país e muito
além dele, atraindo os descontentes, pois é da soberba humana denegrir,
macular, ou destruir o que é feito com alegria e fora de levianos
interesses.


6.   DISPONIBILIDADE
Algumas palavras não eram jamais pronunciadas pelo homem: “Não é possível!”,
“Não há condições!”, “Não temos espaço, ou verba, ou pessoal para isso...”,
“Seu pedido não atende o perfil do nosso trabalho...”, “Lamentamos
informar...”, precedido pelo irritante “Neste momento que o parabenizamos
pela iniciativa...”
Por outra, seus auxiliares possuíam carga horária a cumprir e a executavam
incontinenti, pois deveria ser da natureza humana ter responsabilidade com o
que lhe é próprio e maior responsabilidade ainda com o que é alheio. E, mãos
estendidas e sorriso franco – às vezes sob forte cansaço! – diziam sempre
“Pois não?”, “Em que posso ajudar?”, “Sou eu quem deve ajudá-lo nessa
tarefa!”, “Por favor, disponha de meus serviços!”, “Todos aqui são
responsáveis por todas as atividades do espaço!”, “Será providenciado
imediatamente!”.
Os bons serviços de uns tornavam fácil o bom serviço dos outros e todos
terminavam suas atividades com a certeza do dever cumprido e a felicidade
natural que isso acarreta.


7.   CONFIABILIDADE
Eis então o homem de volta ao local de onde partira quatro anos antes.
Chegara no dia e hora combinados. Nada de seu se perdera porque por onde
passava havia quem o acolhesse e o salário por seus serviços. Nada de mais
nem de menos. Estava cansado, é certo, mas realizado. E o povo todo lhe
pediu que ficasse e que estivesse com eles mais quatro anos. Com um sorriso
bondoso o homem recusou. Já cumprira sua cota na obra do seu senhor e era
tempo de ser substituído por outro, mais jovem, com um novo entusiasmo,
novas idéias e mãos ainda mais ativas. Seu senhor também descansaria, pois o cetro que passa de mão recebe impulso novo e jamais se acomoda!


Ps: Em destaque na foto o ator e diretor Hudson Andrade, por Yúdice Randol Nascimento, que captou a imagem durante apresentação do auto natalino no dia oito de dezembro de 2006.

Ps2: Hudson Andrade interpreta o Diabo em cena de O Glorioso Auto do Nascimento
do Cristo-Rei,
do qual assina também a dramaturgia. Ver programação:
O Glorioso Auto do Cristo-Rei/2007 É a terceira versão do terceiro espetáculo da Companhia Teatral Nós Outros – sua cria mais legítima! –, que em março de 2007 completa cinco anos de atividades. Neste ano, com o subtítulo O Terceiro Milagre, o auto goza do patrocínio da Sol Informática através da Lei Semear, o que possibilitou um investimento interno em equipamentos e, sobretudo, pessoal, de grande valor. Ao longo de todo o ano foram realizadas oficinas internas de percussão (João Paulo Cavalcante), figurino, cenário e adereços (Aníbal Pacha) e preparação corporal e performance (Ana Flávia Mendes) visando dar aos atores subsídios para o exercício de uma arte feita de suor e dedicação, demonstrando que o exercício do ator é um processo de muito aprendizado e treinamento, que, aliado ao talento, torna o profissional do teatro capaz de suspender a respiração da platéia com um olhar, ou a mão erguida ao céu. Para todos Nós Outros a jornada apenas começou, mas seremos fiéis ao nosso lema: Ninguém pode sair de nossos espetáculos do jeito que entrou!

publicado por Luciane Barros Fiuza de Mello às 18:58

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