Achei a matéria abaixo no blog da jornalista Cristina Moreno. A publicação é da Agência Amazônia e para acessar direto o link da entrevista basta clicar aqui
Jornal Pessoal, teimoso e valente, desnuda Amazônia
domingo, 04 de maio de 2008
Lúcio Flávio: um David contra Golias. Perseverante, talentoso e sortudo.
Editor de um quinzenário sem anúncios durante 20 anos, Lúcio Flávio Pinto encarna a velha e boa escola do jornalismo. Desfilam em seu livro "Contra o Poder" personagens notáveis na história do Estado do Pará, cada qual com seus feitos – bons, libertários, construtivos ou criminosos, cada qual com virtudes e culpas: Jader Barbalho, Hélio Gueiros, Sahid Xerfan, Joaquim de Jesus Bittencourt, Henry Kayath, Augusto Barreira, Joaquim Figueiredo, Alacid Nunes, Jarbas Passarinho, Francisco Joaquim Fonseca, Nelson Ribeiro (o que se notabilizou ao desapropriar Londrina, quando ministro do Desenvolvimento Agrário do presidente José Sarney), Jorge Babot de Miranda, Francisco de Jesus Penha, Francisco Lamartine Nogueira, Ademir Andrade, Paulo Fonteles, Ronaldo Caiado. E muitos outros.
MONTEZUMA CRUZ - montezuma@agenciaamazonia.com.br
BRASÍLIA – Mil e duzentos assinantes foram a marca fantástica obtida por uma publicação sem anunciantes e desprovida de outros recursos financeiros a não ser aqueles do seu único editor. Durante duas décadas, o quinzenário Jornal Pessoal circula graças ao trabalho missionário da família do jornalista Lúcio Flávio Pinto, 58 anos. Em 1989, quando o JP completou dois anos, Lúcio Flávio disse que ele “sobrevivia na corda bamba, desafiando a física financeira e a tolerância dos poderosos”. Entregue em mãos dos assinantes de Belém (PA) e enviado aos Correios para outros estados, ele fez história. Sua saga se transformou no livro Contra o Poder, editado no segundo semestre de 2007.
Em 288 páginas, Lúcio Flávio relata aspectos de sua ousada e digna vida profissional. Gosta do que faz. Daí o subtítulo do livro: 20 anos de Jornal Pessoal – uma paixão amazônica. O Jornalismo na Linha de Tiro, seu livro anterior, já dava a idéia da atual e saborosa leitura. “Tento contar capítulos da história recente do Pará que jamais teriam sido registrados se não existisse este jornal. Mostro como o JP conseguiu reconstituir esses fatos e avaliar o seu significado no mesmo momento em que eles aconteciam”, comenta.
Lúcio Flávio Pinto passou por O Estado de S.Paulo, A Província do Pará, O Liberal, Veja, e os falecidos Opinião, Retratos do Brasil, Jornal da República, Versus e O Nacional. Editou também, sozinho, o Informe Amazônico. Entre outras publicações, incluindo eletrônicas, atualmente colabora com o Observatório da Imprensa, Jornal da Ciência (da SBPC), Adital e Agência Amazônia de Notícias.
Sociologia proveitosa
Registrado em 1969, antes da exigência do curso de comunicação social para o exercício da profissão, Lúcio Flávio preferiu a sociologia. “Achei que me seria mais proveitosa. E achei certo”, justifica. Aos 16 anos começou a fazer palestras, a primeira, em 1967, em Santarém, com o tema “A paz é possível?”. Em 69 falou para senhoras de um clube feminino na Avenida dos Estados, na capital paulista. “Senti-me como um índio quinhentista nos salões reais da Europa. Sem a companhia de periquitos e papagaios, é claro, apesar da tagarelice em volta”.
De lá para cá, ele se aproxima das mil palestras, algo tão saboroso e histórico quanto fazer mil gols. Em plena forma, ele será o moderador do painel 3 do Seminário Desmatamento na Amazônia: um diálogo necessário. É possível?, de seis a oito de maio, em Belém. Debaterá com empresários e tomadores de decisão, convidados pelo Museu Emílio Goeldi e pelo Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do Pará (Idesp).
“A partir da 1ª quinzena de 1987 experimentei uma terceira dimensão superior de prazer. Foi ao ver, pendurado na principal banca de Belém, na linda Praça da República, o primeiro número do JP. Pequenino, feio, mal arrumado, ele cantava de galo no poleiro dos jornais e revistas. O canto haveria de ser rouco e curto, previam todos, inclusive eu, escolado e escalavrado nas vielas da imprensa alternativa – intensa, às vezes; efêmera, quase sempre”, conta.
“O povão não o lerá, infelizmente. Não com a periodicidade que seria desejável, ou necessária, para dar-lhe a devida conseqüência. Talvez fosse possível alcançar a massa dos cidadãos se o jornal contasse com farta publicidade ou mecenas poderoso. O preço dessa abrangência, porém, seria a perda da independência, o fim da possibilidade de fazer um jornalismo radical (de radicare: ir às raízes), que só tem um limite: a capacidade do jornalista que o pratica. É uma contradição, mas ela é inevitável”, diz.
Um bom combate
Por que um jornal pessoal? O preço da independência, o rombo de 30 milhões de dólares no Banco da Amazônia S/A (Basa), Serra Pelada, Banco do Estado do Pará (Banpará), Eldorado dos Carajás, Serviço Nacional de Informações (SNI), grande imprensa, Transamazônica, Projeto Jari, grandes projetos, o poder e o jogo do bicho, devastação, estão ali, dilacerados em textos primorosos que incluem trechos de grandes reportagens do autor. Dezesseis cartuns de Luiz Pinto, o único artista do JP, desopilam o fígado do leitor.
“O combate à elite, contudo, não é voluntarista, à base de vazias catilinárias: os argumentos se sustentam em sólidos fundamentos e em numerosas provas. Pode-se discordar do que sai no JP e polemizar com seu autor solitário, mas não desmentir os fatos que servem de impulso ao seu raciocínio. Esta é a grande arma do jornalismo. E o JP a utiliza exemplarmente” – está escrito em sua apresentação.
Desfilam em Contra o Poder personagens notáveis na história do Estado do Pará, cada qual com seus feitos – bons, libertários, construtivos ou criminosos, cada qual com virtudes e culpas: Jader Barbalho, Hélio Gueiros, Sahid Xerfan, Joaquim de Jesus Bittencourt, Henry Kayath, Augusto Barreira, Joaquim Figueiredo, Alacid Nunes, Jarbas Passarinho, Francisco Joaquim Fonseca, Nelson Ribeiro (o que se notabilizou ao desapropriar Londrina, quando ministro do Desenvolvimento Agrário), Jorge Babot de Miranda, Francisco de Jesus Penha, Francisco Lamartine Nogueira, Ademir Andrade, Paulo Fonteles, Ronaldo Caiado.
Mais: João Malato, Oziel Carneiro, Hamilton Guedes, Luiz Guilherme, deputado Arnaldo Moraes, coronel Antônio Carlos, Clóvis Martins, Mário Couto, Miguel Pinho, Bosco Moyses, general Ivan de Souza Mendes, José Sarney, Rômulo Maiorana, juiz Pedro Paulo Martins, advogado Paulo Lamarão, Companhia Vale do Rio Doce, Construtora Andrade Gutierrez e outros homens e empresas. Quem são eles? Leia o livro, imperdível para quem quiser entender algumas facetas sociopolíticas e culturais da mais fantástica região do Planeta.
"O JP é um jornal de elite. Nem podia ser de outra maneira", ele conta. Tem apenas 12 páginas, em formato ofício (só um pouco maior do que uma folha de papel A4), em preto e branco, com poucas ilustrações e custa R$ 3. "É mais caro que um jornal convencional, com muito mais páginas e atrativos – espelhinhos e balangandãs – para o leitor. Quem o quiser ler terá que ir até uma banca de revistas para comprá-lo. Não há a possibilidade de recebê-lo em casa, por meio de assinatura”, explica.
Trem da história
Na edição 42, na 1ª quinzena de junho de 1989, a matéria de capa fala da indicação rasteiramente política que Jader Barbalho, então ministro, ex-governador e hoje deputado federal pelo PMDB, adotou para preencher cargos locais da administração federal: “(...) Impossibilitadas de embarcar no trem da história, cuja velocidade ultrapassa sua capacidade de atracação, e de vislumbrar o destino da viagem, essas elites se esforçam por tentar convencer a opinião pública de que antes as coisas eram melhores, queixam-se de não serem consultadas, lamentam que suas qualidades sejam deixadas de lado. Sempre que foram chamadas a participar, no entanto, deram contribuição negativa.
“Independentemente de saber se foram melhores ou piores do que o que está aí resta a constatação de que abandonaram a pretensão (que só sustentaram enquanto foram elites dominantes) de defender um projeto identificado com a Amazônia. Querem só encontrar um lugar, por mais secundário que seja, na ocupação da região, feita de fora para dentro”.
Colonizador fala a língua do colonizado
Na mesma edição, o texto sobre a Empresa de Navegação da Amazônia, do governo federal, e a recomposição da diretoria do Basa, assinala: “Quem mora na Amazônia e acompanha a expansão das atividades econômicas na região tem seus motivos para achar que sua condição colonial é um traço muito mais definidor do que a sua função de fronteira do capitalismo.
“Ela está nas duas situações, mas quando se fala em ‘ocupação da Amazônia’, a associação de idéias esclarecedora deve ser feita com a instalação dos ingleses na Índia ou dos franceses na Indochina e não exatamente em relação à ‘corrida ao Oeste’ nos Estados Unidos".
Lúcio Flávio aponta a diferença em relação aos dois primeiros casos: "Na Amazônia, a maioria dos colonizadores fala a mesma língua do colonizado. Assim, uma abstração dificulta a compreensão real de dois mundos distintos, um que comanda as decisões e outro que é forçado a se submeter a elas. Não há interpenetração entre esses dois mundos, um estatuto capaz de estabelecer relação mutuamente respeitosa".
Acrescenta: “É uma colisão tão flagrante que faz crescer na região o sentimento de humilhação, alimentador de teses separatistas. É cada vez mais restrita a ilusão na federação, a crença de que um Estado nacional seja receptivo – ou sequer receptível – a uma região como a Amazônia. Fala-se cada vez mais em separar os corpos, procurar uma nova identidade jurídica. Esse sentimento não é exclusivo da Amazônia: ele emerge no Rio Grande do Sul e também no Nordeste, sem uma liderança para canalizá-lo. Ele cresce porque, apesar de toda a retórica em sentido contrário, a concentração da riqueza no Centro-Sul – e particularmente em São Paulo – se tem mantido, agravando o desequilíbrio econômico do País”.
Reminiscências profissionais na capital do Pará
BRASÍLIA – Lúcio Flávio Pinto lembra-se da peleja para sensibilizar A Província do Pará a investir num departamento de pesquisa semelhante ao do Jornal do Brasil na passagem entre os anos 1950 e 60, criado por Murilo Felisberto e aprimorado por Fernando Gabeira. Lembra das longas consultas aos arquivos do Diário de S.Paulo (nos tempos de Assis Chateaubriand e Edmundo Monteiro), do Estadão e do Departamento de Documentação da Editora Abril.
Volta à infância para mencionar sua compulsiva leitura desde a primeira hora da alfabetização, ainda em Santarém, com a irmã Norina, no Colégio Santa Clara. “Leitor desorganizado, caótico. Mas o acesso à teologia e à filosofia dos primeiros existencialistas – e, em seguida, a Sartre – me fez perceber que precisava de disciplina”, observa.
Recorda-se das Livrarias Martins, “comandada pelo generoso seu Carlos e, na vanguarda, pelo sempre gentil seu Gama”, e Econômica, de Eduardo Failache, na Travessa Campos Sales, com quem brigava pelo preço dos livros do sebo. “Saía do local da pugna, tomava o elevador, subia até o 8º andar do Edifício Justo Chermont, me acalmava na sucursal do Estadão em Belém, onde trabalhava, repensava, e voltava ao sítio da contenda feroz para formular um novo lance pelo cobiçado butim. E assim se passaram os longos anos de esgrima verbal com Dudu, até levá-lo à última morada, em 2006, como o único cliente que respondeu presente ao derradeiro encontro entre amigos”.
“Graças a essa dupla via, acho que formei minha carapaça de jornalista sem perder o enchimento de vivacidade e leveza, que a leitura por puro prazer proporciona. Como eu, muitos outros que, em várias partes do País, seguiam a mesma trajetória, no rumo de um jornalismo enriquecido. Tão acrescido que começaram a surgir adjetivos acompanhantes para qualificá-lo: investigativo, econômico, ambiental, indigenista, amazônico”.
Para fazer o JP, ele contou com a força da família
Jornal Pessoal, teimoso e valente, desnuda Amazônia |
domingo, 04 de maio de 2008 | |
Lúcio Flávio: um David contra Golias. Perseverante, talentoso e sortudo.
Editor de um quinzenário sem anúncios durante 20 anos, Lúcio Flávio Pinto encarna a velha e boa escola do jornalismo. Desfilam em seu livro "Contra o Poder" personagens notáveis na história do Estado do Pará, cada qual com seus feitos – bons, libertários, construtivos ou criminosos, cada qual com virtudes e culpas: Jader Barbalho, Hélio Gueiros, Sahid Xerfan, Joaquim de Jesus Bittencourt, Henry Kayath, Augusto Barreira, Joaquim Figueiredo, Alacid Nunes, Jarbas Passarinho, Francisco Joaquim Fonseca, Nelson Ribeiro (o que se notabilizou ao desapropriar Londrina, quando ministro do Desenvolvimento Agrário do presidente José Sarney), Jorge Babot de Miranda, Francisco de Jesus Penha, Francisco Lamartine Nogueira, Ademir Andrade, Paulo Fonteles, Ronaldo Caiado. E muitos outros.
MONTEZUMA CRUZ - montezuma@agenciaamazonia.com.br
BRASÍLIA – Mil e duzentos assinantes foram a marca fantástica obtida por uma publicação sem anunciantes e desprovida de outros recursos financeiros a não ser aqueles do seu único editor. Durante duas décadas, o quinzenário Jornal Pessoal circula graças ao trabalho missionário da família do jornalista Lúcio Flávio Pinto, 58 anos. Em 1989, quando o JP completou dois anos, Lúcio Flávio disse que ele “sobrevivia na corda bamba, desafiando a física financeira e a tolerância dos poderosos”. Entregue em mãos dos assinantes de Belém (PA) e enviado aos Correios para outros estados, ele fez história. Sua saga se transformou no livro Contra o Poder, editado no segundo semestre de 2007.
Em 288 páginas, Lúcio Flávio relata aspectos de sua ousada e digna vida profissional. Gosta do que faz. Daí o subtítulo do livro: 20 anos de Jornal Pessoal – uma paixão amazônica. O Jornalismo na Linha de Tiro, seu livro anterior, já dava a idéia da atual e saborosa leitura. “Tento contar capítulos da história recente do Pará que jamais teriam sido registrados se não existisse este jornal. Mostro como o JP conseguiu reconstituir esses fatos e avaliar o seu significado no mesmo momento em que eles aconteciam”, comenta.
Lúcio Flávio Pinto passou por O Estado de S.Paulo, A Província do Pará, O Liberal, Veja, e os falecidos Opinião, Retratos do Brasil, Jornal da República, Versus e O Nacional. Editou também, sozinho, o Informe Amazônico. Entre outras publicações, incluindo eletrônicas, atualmente colabora com o Observatório da Imprensa, Jornal da Ciência (da SBPC), Adital e Agência Amazônia de Notícias. Sociologia proveitosa Registrado em 1969, antes da exigência do curso de comunicação social para o exercício da profissão, Lúcio Flávio preferiu a sociologia. “Achei que me seria mais proveitosa. E achei certo”, justifica. Aos 16 anos começou a fazer palestras, a primeira, em 1967, em Santarém, com o tema “A paz é possível?”. Em 69 falou para senhoras de um clube feminino na Avenida dos Estados, na capital paulista. “Senti-me como um índio quinhentista nos salões reais da Europa. Sem a companhia de periquitos e papagaios, é claro, apesar da tagarelice em volta”. De lá para cá, ele se aproxima das mil palestras, algo tão saboroso e histórico quanto fazer mil gols. Em plena forma, ele será o moderador do painel 3 do Seminário Desmatamento na Amazônia: um diálogo necessário. É possível?, de seis a oito de maio, em Belém. Debaterá com empresários e tomadores de decisão, convidados pelo Museu Emílio Goeldi e pelo Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do Pará (Idesp). “A partir da 1ª quinzena de 1987 experimentei uma terceira dimensão superior de prazer. Foi ao ver, pendurado na principal banca de Belém, na linda Praça da República, o primeiro número do JP. Pequenino, feio, mal arrumado, ele cantava de galo no poleiro dos jornais e revistas. O canto haveria de ser rouco e curto, previam todos, inclusive eu, escolado e escalavrado nas vielas da imprensa alternativa – intensa, às vezes; efêmera, quase sempre”, conta. “O povão não o lerá, infelizmente. Não com a periodicidade que seria desejável, ou necessária, para dar-lhe a devida conseqüência. Talvez fosse possível alcançar a massa dos cidadãos se o jornal contasse com farta publicidade ou mecenas poderoso. O preço dessa abrangência, porém, seria a perda da independência, o fim da possibilidade de fazer um jornalismo radical (de radicare: ir às raízes), que só tem um limite: a capacidade do jornalista que o pratica. É uma contradição, mas ela é inevitável”, diz. Um bom combate Por que um jornal pessoal? O preço da independência, o rombo de 30 milhões de dólares no Banco da Amazônia S/A (Basa), Serra Pelada, Banco do Estado do Pará (Banpará), Eldorado dos Carajás, Serviço Nacional de Informações (SNI), grande imprensa, Transamazônica, Projeto Jari, grandes projetos, o poder e o jogo do bicho, devastação, estão ali, dilacerados em textos primorosos que incluem trechos de grandes reportagens do autor. Dezesseis cartuns de Luiz Pinto, o único artista do JP, desopilam o fígado do leitor. “O combate à elite, contudo, não é voluntarista, à base de vazias catilinárias: os argumentos se sustentam em sólidos fundamentos e em numerosas provas. Pode-se discordar do que sai no JP e polemizar com seu autor solitário, mas não desmentir os fatos que servem de impulso ao seu raciocínio. Esta é a grande arma do jornalismo. E o JP a utiliza exemplarmente” – está escrito em sua apresentação. Desfilam em Contra o Poder personagens notáveis na história do Estado do Pará, cada qual com seus feitos – bons, libertários, construtivos ou criminosos, cada qual com virtudes e culpas: Jader Barbalho, Hélio Gueiros, Sahid Xerfan, Joaquim de Jesus Bittencourt, Henry Kayath, Augusto Barreira, Joaquim Figueiredo, Alacid Nunes, Jarbas Passarinho, Francisco Joaquim Fonseca, Nelson Ribeiro (o que se notabilizou ao desapropriar Londrina, quando ministro do Desenvolvimento Agrário), Jorge Babot de Miranda, Francisco de Jesus Penha, Francisco Lamartine Nogueira, Ademir Andrade, Paulo Fonteles, Ronaldo Caiado.
Mais: João Malato, Oziel Carneiro, Hamilton Guedes, Luiz Guilherme, deputado Arnaldo Moraes, coronel Antônio Carlos, Clóvis Martins, Mário Couto, Miguel Pinho, Bosco Moyses, general Ivan de Souza Mendes, José Sarney, Rômulo Maiorana, juiz Pedro Paulo Martins, advogado Paulo Lamarão, Companhia Vale do Rio Doce, Construtora Andrade Gutierrez e outros homens e empresas. Quem são eles? Leia o livro, imperdível para quem quiser entender algumas facetas sociopolíticas e culturais da mais fantástica região do Planeta. "O JP é um jornal de elite. Nem podia ser de outra maneira", ele conta. Tem apenas 12 páginas, em formato ofício (só um pouco maior do que uma folha de papel A4), em preto e branco, com poucas ilustrações e custa R$ 3. "É mais caro que um jornal convencional, com muito mais páginas e atrativos – espelhinhos e balangandãs – para o leitor. Quem o quiser ler terá que ir até uma banca de revistas para comprá-lo. Não há a possibilidade de recebê-lo em casa, por meio de assinatura”, explica. Trem da história
Na edição 42, na 1ª quinzena de junho de 1989, a matéria de capa fala da indicação rasteiramente política que Jader Barbalho, então ministro, ex-governador e hoje deputado federal pelo PMDB, adotou para preencher cargos locais da administração federal: “(...) Impossibilitadas de embarcar no trem da história, cuja velocidade ultrapassa sua capacidade de atracação, e de vislumbrar o destino da viagem, essas elites se esforçam por tentar convencer a opinião pública de que antes as coisas eram melhores, queixam-se de não serem consultadas, lamentam que suas qualidades sejam deixadas de lado. Sempre que foram chamadas a participar, no entanto, deram contribuição negativa. “Independentemente de saber se foram melhores ou piores do que o que está aí resta a constatação de que abandonaram a pretensão (que só sustentaram enquanto foram elites dominantes) de defender um projeto identificado com a Amazônia. Querem só encontrar um lugar, por mais secundário que seja, na ocupação da região, feita de fora para dentro”. Colonizador fala a língua do colonizado
Na mesma edição, o texto sobre a Empresa de Navegação da Amazônia, do governo federal, e a recomposição da diretoria do Basa, assinala: “Quem mora na Amazônia e acompanha a expansão das atividades econômicas na região tem seus motivos para achar que sua condição colonial é um traço muito mais definidor do que a sua função de fronteira do capitalismo.
“Ela está nas duas situações, mas quando se fala em ‘ocupação da Amazônia’, a associação de idéias esclarecedora deve ser feita com a instalação dos ingleses na Índia ou dos franceses na Indochina e não exatamente em relação à ‘corrida ao Oeste’ nos Estados Unidos".
Lúcio Flávio aponta a diferença em relação aos dois primeiros casos: "Na Amazônia, a maioria dos colonizadores fala a mesma língua do colonizado. Assim, uma abstração dificulta a compreensão real de dois mundos distintos, um que comanda as decisões e outro que é forçado a se submeter a elas. Não há interpenetração entre esses dois mundos, um estatuto capaz de estabelecer relação mutuamente respeitosa". Acrescenta: “É uma colisão tão flagrante que faz crescer na região o sentimento de humilhação, alimentador de teses separatistas. É cada vez mais restrita a ilusão na federação, a crença de que um Estado nacional seja receptivo – ou sequer receptível – a uma região como a Amazônia. Fala-se cada vez mais em separar os corpos, procurar uma nova identidade jurídica. Esse sentimento não é exclusivo da Amazônia: ele emerge no Rio Grande do Sul e também no Nordeste, sem uma liderança para canalizá-lo. Ele cresce porque, apesar de toda a retórica em sentido contrário, a concentração da riqueza no Centro-Sul – e particularmente em São Paulo – se tem mantido, agravando o desequilíbrio econômico do País”. Reminiscências profissionais na capital do Pará
BRASÍLIA – Lúcio Flávio Pinto lembra-se da peleja para sensibilizar A Província do Pará a investir num departamento de pesquisa semelhante ao do Jornal do Brasil na passagem entre os anos 1950 e 60, criado por Murilo Felisberto e aprimorado por Fernando Gabeira. Lembra das longas consultas aos arquivos do Diário de S.Paulo (nos tempos de Assis Chateaubriand e Edmundo Monteiro), do Estadão e do Departamento de Documentação da Editora Abril. Volta à infância para mencionar sua compulsiva leitura desde a primeira hora da alfabetização, ainda em Santarém, com a irmã Norina, no Colégio Santa Clara. “Leitor desorganizado, caótico. Mas o acesso à teologia e à filosofia dos primeiros existencialistas – e, em seguida, a Sartre – me fez perceber que precisava de disciplina”, observa. Recorda-se das Livrarias Martins, “comandada pelo generoso seu Carlos e, na vanguarda, pelo sempre gentil seu Gama”, e Econômica, de Eduardo Failache, na Travessa Campos Sales, com quem brigava pelo preço dos livros do sebo. “Saía do local da pugna, tomava o elevador, subia até o 8º andar do Edifício Justo Chermont, me acalmava na sucursal do Estadão em Belém, onde trabalhava, repensava, e voltava ao sítio da contenda feroz para formular um novo lance pelo cobiçado butim. E assim se passaram os longos anos de esgrima verbal com Dudu, até levá-lo à última morada, em 2006, como o único cliente que respondeu presente ao derradeiro encontro entre amigos”. “Graças a essa dupla via, acho que formei minha carapaça de jornalista sem perder o enchimento de vivacidade e leveza, que a leitura por puro prazer proporciona. Como eu, muitos outros que, em várias partes do País, seguiam a mesma trajetória, no rumo de um jornalismo enriquecido. Tão acrescido que começaram a surgir adjetivos acompanhantes para qualificá-lo: investigativo, econômico, ambiental, indigenista, amazônico”. Para fazer o JP, ele contou com a força da família
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