Mestre Verequete, um dos ícones da cultura paraense, em uma apresentação no palco do Teatro Experimental Waldemar Henrique, em fevereiro de 2009 Foto: Eunice Pinto/Agência Pará |
O Pará perdeu, ontem, 3 de novembro, um dos grandes representantes de sua cultura, o músico Augusto Gomes Rodrigues, mais conhecido como Mestre Verequete. Na verdade, os paraenses perderam a presença iluminada e talentosa do artista que completou 93 anos em agosto deste ano, mas a música do mestre permanecerá: o carimbó de raiz, o ritmo gostoso, que dá vontade de cantar e rodopiar... Achei dois textos bem interessantes sobre o Mestre Verequete (abaixo), que deve estar fazendo uma grande festa no céu. Salve, Verequete!
O carimbó nunca morre, quem canta o carimbó sou eu!
O Carimbó não morreu, está de volta outra vez.
O Carimbó não morreu , está de volta outra vez.
O carimbó nunca morre, quem canta o carimbó sou eu.
O carimbó nunca morre, quem canta o carimbó sou eu.
Sou cobra venenosa, osso duro de roer.
Sou cobra venenosa, cuidado eu vou te morder.
*Mestre Verequete
Esta letra nunca foi tão atual.
A morte de Verequete traz para a pauta o peso do carimbó na cultura popular paraense.
Desde o ano passado, um coletivo de apaixonados e estudiosos do assunto trabalham, com o apoio da Secult, para que o ritmo seja reconhecido pela Unesco como Patrimônio Imaterial da Humanidade.
Uma campanha que, apesar de toda a sua importância para a nossa cultura, ainda segue pobre e sem reverberação na socidade. Não por culpa dos voluntárias dedicados à ela. Mas por total ignorância do povo em relação ao peso que esse reconhecimento mundial tem ou por mero descaso mesmo.
Verequete parte e deixa conosco um legado. Ele, que era um dos ícones desta campanha, cumpre sua missão fazendo todos refletirem sobre o que significa a morte de mais um Mestre da nossa cultura popular.
Espero que agora todos os que lamentam publicamente a morte de Verequete, escrevem belos textos e estão dando pinta no velório no Teatro da Paz façam algo de verdade pela preservação da nossa cultura popular e pelo reconhecimento de nossos mestres.
Salve, grande Mestre!
O carimbó nunca morre, quem deve cantar o carimbó agora somos todos nós!
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Atualizado 04/11, 0h10
Recomendo a leitura de Chore Você também por Verequete, do excelente Bêbado Gonzó.
Fonte: http://faloporquetenhoboca.blogspot.com/
(BLOG DA JORNALISTA WALEISKA FERNANDES)
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Chore você também por Verequete
Fonte: http://bebadogonzo.blogspot.com/2009/11/chore-voce-tambem-por-verequete.html
(BLOG DO JORNALISTA ANDERSON ARAÚJO)
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ATUALIZADO EM 5 DE NOVEMBRO:
Gosto da análise do Anderson e concordo com muitas de suas colocações, entretanto, penso que o poder público tem, sim, grande responsabilidade com a sua cultura e seus artistas. Para isso, deve elaborar políticas culturais que privilegiem as mais diversas manifestações, que promovam todas as formas de arte, especialmente a popular, e que (por que não?) ajudem mestres como Verequete, já que isso não é assistencialismo, mas uma forma de reparar um pouquinho tanto tempo de políticas públicas tão equivocadas.
Sinto que há uma luz no fim do túnel como me sentia feliz ao ver, há alguns anos, uma ou iniciativa interessante. As políticas culturais do Estado sinalizam um caminho melhor, mais justo e inclusivo. Mas ainda é pouco, muito pouco perto do estado atual da nossa arte, dos nossos artistas. Além do esquecimento de anos, décadas, muitos artistas sofrem nas mãos de produtores culturais gananciosos e sem escrúpulo, como foi o caso do próprio Verequete.
Em 2005, quando estudava Jornalismo na UFPA, escrevi um artigo sobre dança folclórica paraense, "Mangueiras Bailarinas", no qual falo destas questões e analiso a linha tênue que separa o processo natural de modernização da cultura da sua massificação:
"(...) A descaracterização da dança folclórica paraense favorece sua estilização assim como a ação de produtores culturais despreocupados com a preservação desta arte. As coreografias, vestimentas e músicas que compõem nossas danças, como o carimbó e o lundu, retratam o jeito de ser e de viver do nativo. O movimento do corpo dos dançarinos mostra as características da nossa gente.
O carimbó, com seus passos embalados pelo gingado harmônico dos quadris das dançarinas, destaca a brejeirice das moças da terra. Já o lundu é o puro encantamento dos enamorados: a sexualidade à flor da pele e o cheiro desse Pará quente e úmido, espelhado na malícia dos movimentos desta arte identificadora de nossa cultura.
Rosaly Brito, professora da Universidade Federal do Pará (UFPA), define cultura como a ação simbolizadora do homem. A dança folclórica, representante da cultural regional, portanto, de acordo com a professora, está sujeita à “criação e atualização permanentes, inerentes aos sistemas simbólicos de significação do próprio homem”. Estando a cultura ligada intrinsecamente às formas de poder vigentes, percebe-se então que os fatores políticos e sociais envolvidos no fazer artístico-cultural são determinantes no seu processo de modernização. (...)". O texto completo pode ser lido aqui.
Em uma outra matéria escrita, no mesmo ano, para uma revista paraense, "Belém, a eterna musa", músicos e poetas cantam Belém, mas com o olhar crítico em relação à mídia, patrocinadores e produtores culturais:
“(...) Lá fora, críticos e literatura retratam a dimensão da música produzida aqui, apesar de ainda não existir uma produção em massa”. A afirmação é de Paulo André Barata, que credita o fato à falta da valorização local dos artistas, no momento em que 'mecenas' continuam a investir alto no que vem de fora. 'Somos receptivos com conceitos e padrões importados, mas nosso mercado é inexpressivo, ainda estamos procurando um jeito de mobilizar o interesse de todos que fazem girar a roda do mercado de discos e shows', opina Almirzinho Gabriel. Para ele, existe um movimento estético com propostas interessantes na cidade.
Paes Loureiro fala dessa efervescência cultural de Belém. 'Estamos participando ou assistindo ao nascimento de um novo ciclo artístico-cultural amazônico a partir de Belém, que está na liderança deste processo'. Paulo André Barata ressalta que os compositores estão preocupados em traçar um mapa do ritmo do Pará, mas 'não existe música paraense e sim músicos paraenses'. (...)"
As matérias foram escritas em 2005, mas ainda são atuais em muitos aspectos, infelizmente. Como bem analisou o jornalista Anderson Araújo, "estamos em um tempo marcado pela tal globalização midiática que ao mesmo tempo nos torna informados em tempo real sobre a morte do músico paraense miserável e nos toca profudamente, porque é um símbolo que deixa de existir materialmente. Agora é o mesmo fenômeno que nos impõe produtos de todas as partes do mundo e deixa pouco espaço para conhecer os que estão mais perto. Mesmo os de alguma qualidade, seja ela técnica ou simbólica mesmo, como era do caso do mestre falecido".
Posso dizer que esse mesmo fenômeno tem ajudado no crescimento das aparelhagens, aquelas músicas (?) que, além de nos deixar surdos, enchem a cabeça das crianças e jovens com letras vazias nesse processo de aculturação. Hoje mesmo, no ônibus, o barulho ensurdecedor e irritante de uma destas músicas ficou ainda pior quando resolvi sentar ao lado da "caixa de som": um celular grudado no ouvido de um rapaz - até então achava que a música era do coletivo. Precisei pedir para o distinto passageiro diminuir o volume porque nem com meu fone de ouvido conseguia ouvir a música do meu celular. Ao contrário, na véspera, quase choro ao ver um grupo de carimbó do Sesc percorrendo as ruas da Doca em homenagem ao Mestre Verequete.
Por tudo isso desejo, sinceramente, que este momento de dor sirva de reflexão para todos nós, governos, artistas, produtores, empresários, cidadãos... Daqui a um tempo talvez não existam mais heróis como o Mestre Verequete, homem que viveu, amou e lutou para preservar asua arte. A arte que o manteve vivo por quase um século.
Que a chama de Verequete toque o coração de todos.