Simplesmente Lu

Janeiro 18 2010
16.01.2010

 




Em honra, a fome. Em glória, a sede.

Maiores desesperos do corpo. Movimento de falta pelo que não foi mastigado ou bebido. Carnes trementes pelo nutriente falido; músculos que juntos protagonizam escândalo na mente quase insana, que clama, sem cerimônia, “pão!”.

Ingenuidade interrompida. Abundância no raso. Alguém grita: lá, o pão! E se vão, centenas de pares de olhos, sem ternura, sem doçura, a caça, ou mesmo luta, pelo alento das fibras. A fome fala, na voz que emudece. Pressa! Ser acalmado pelo pão que, lacônico perfeito, reabastece o gesto sereno do hiante. Majestoso em seu trigo ao faminto que lhe reza “bem vindo”. Este não come, devora!

Corpos suam nessa afobação. Suor. Água. Qual a diferença? O primeiro é derramado no duelo pela segunda. Um copo d’água, não importa se sujo. Importa se é água. Olhares vivos, quase mortos, semi-loucos.  Não há carinho, beleza ou fé. Mas há contemplação. E muito verdadeira. Determinada e forçada pelo instinto. Sobrevivência. Sem afetuoso brilho ou gentil dúvida: um ganido, um soco, um chute e o definitivo golpe. “É minha a água!” E cai o outro. O alguém bebe, senti afinal derramado na seca língua a tão rara e imunda água. Ao morto, apenas seus olhos gelados, de canto, parecem chorando; deste caído, seu sangue é coágulo. A boca aberta parece falar, “não, era minha a água!” Na sede, cantam-lhe vossos olhos a cega presença que o outro lhe desperta – o outro: também caçador de sua água, do mesmo modo, por ela, vence ou cai.

Um país, Haiti. Há algo maior que um Plano Marshall para reconstruir aquele bolo de escombros, carnes e humanos?

 

Fonte: http://blogs.abril.com.br/poemasvalentulus

 

publicado por Luciane Barros Fiuza de Mello às 13:31
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Janeiro 18 2010

Trechos do último discurso de Zilda Arns em Porto Príncipe:

 

(...) Na realidade, todos nós estamos aqui, nesse encontro, porque sentimos dentro de nós uma forte vontade de divulgar ao mundo a boa notícia de Jesus. A boa notícia, transformada em ações concretas, é luz e esperança na conquista pela paz nas famílias e nas nações. A construção da paz começa no coração das pessoas e tem seu fundamento no amor, que tem raízes na gestão e na primeira infância, e se transforma na fraternidade e responsabilidade social.

 

(...) A paz é uma conquista coletiva. Acontece quando incentivamos as pessoas, quando promovemos os valores culturais e éticos, as atitudes e práticas pela busca de um bem comum, que aprendemos de nosso mestre Jesus. "Eu vim para que todos tenham vida e tenham em abundancia" (Jo 10.10).

 

(...) Como discípulos e missionários, convidados a evangelizar, sabemos que a força propulsora da transformação social está na prática do maior de todos os mandamentos da Lei de Deus: o amor, expressado na solidariedade fraterna, que é capaz de mover montanhas. “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmo”, significa trabalhar pela inclusão social, fruto da Justiça; significa não ter preconceitos, aplicar nossos melhores talentos a favor da vida plena, prioritariamente daqueles que mais necessitam. Somar esforços para alcançar objetivos, servir com humildade e misericórdia, sem perder a própria identidade. Todo esse caminho precisa da comunicação constante para iluminar, animar, fortalecer e democratizar nossa Missão de Fé e Vida.

 

(...) Acreditamos que esta transformação social exige um investimento máximo de esforços para o desenvolvimento integral das crianças. Este desenvolvimento começa quando uma criança se encontra ainda no ventre sagrado de sua mãe. As crianças, quando são bem cuidadas, são sementes da paz e da esperança. Não existe ser humano mais perfeito, mais justo, mais solidário e sem preconceito que a criança.

 

(...) O objetivo da Pastoral da Criança é reduzir as causas da desnutrição e da mortalidade infantil, promover o desenvolvimento integral das crianças, desde sua concepção até os seis anos de idade. A primeira infância é uma etapa decisiva para a saúde, educação, consolidação dos valores culturais, cultivo da fé e da cidadania, com profundas repercussões ao longo da vida.

 

(...) Os resultados do trabalho voluntário, com a mística do amor a Deus e ao próximo, em linha com nossa mãe terra, que a todos deve alimentar, nossos irmãos, os frutos e as flores, nossos rios, lagos, mares, florestas e animais. Tudo isso nos mostra como a sociedade organizada pode ser protagonista de sua transformação. Neste espírito, ao fortalecer os laços que ligam a comunidade, podemos encontrar as soluções para os graves problemas sociais que afetam as famílias pobres. Como os pássaros, que cuidam de seus filhos ao fazer um ninho no alto das árvores e nas montanhas, longe de predadores, ameaças e perigos, e mais perto de Deus, deveríamos cuidar de nossos filhos como um bem sagrado, promover o respeito a seus direitos e protegê-los.

 

Muito Obrigada!
Que Deus acompanhe a todos!

Dra. Zilda Arns Neumann

publicado por Luciane Barros Fiuza de Mello às 12:18

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