Publiquei este artigo em abril do ano passado, na revista Amazônia. Fica como contribuição, acho que tem a ver com esse insólito esquecimento da edição de Belém do Fórum:
O FSM como democracia de alto impacto
O Fórum Social Mundial passou por Belém, seguiu, e há de ter levado coisa e gente junto consigo. Há, também, de ter deixado algo. As reflexões, inflexões e flexões que lhe são próprias, e que vão muito, imensamente, além da papa que a imprensa local disse a respeito, hão de ter semeado em campo contundente. O que se deve fazer é regar e aguardar. Digo isso pensando num sujeito de aparência nervosa, incomodado pelo ocaso do neoliberalismo e cuja identidade, certamente, não revelarei e que, alguns dias após o Fórum, procurava me incomodar com meia dúzia de reflexões políticas de índole metafísica e hálito amargo. Dizia ele que o Fórum era o ocaso das esquerdas, um cume apolítico, etc, e justificava isso observando que o Fórum “não deixou nada de concreto”.
Como não tenho grande paciência para o debate que não é debate, mas duplo monólogo, ouvi-o com generosidade parcimoniosa e deixei para escrever por aqui o que eu teria a lhe responder e que se resume numa única colocação: o “concreto” de que fala, tal como pensa, não é possível, desejável e nem necessário. Porque o Fórum é uma experiência democrática de alto impacto, e isso, tal como outras experiências congêneres, democráticas e de alto impacto, não produzem centralizações, unificações ou sínteses, mas sim polifonias.