Esta matéria foi publicada em um pequeno livro, com tiragem limitadíssima, que fala
sobre a Praça da República ("Num banco de praça"). O trabalho resultou de um curso
de redação jornalística, que fiz em 2004. Se Waldemar estivesse vivo, estaria completando 100 anos. Desde o início do ano, muitas homenagens estão acontecendo aqui em Belém. Aí vai a minha. A matéria está publicada também no jornal on line do Centro de Letras e Artes da UFPA, no seguinte endereço: http://www.ufpa.br/cla/jornal/edicoes_anteriores/2003/10_11_12/reportagens/
Waldemar_Henrique.htm
"O novo no velho Waldemar"
Waldemar Henrique foi compositor, pianista, maestro, carnavalesco e tantas outras facetas que permanecem vivas no imaginário do povo paraense. Mas o que imortaliza um gênio? Pode-se dizer que é o resgate de suas obras, suas realizações e mesmo a homenagem de uma arquitetura, como o Teatro Waldemar Henrique, localizado no coração da Praça da República. E por que não dizer também que a imagem daquele senhor simpático passeando pela praça sobrevive na memória de muitos? Waldeco morou por um longo período nos arredores da praça, chegando a viver no Teatro da Paz durante o tempo em que foi diretor da casa de espetáculos. Em depoimento à fotógrafa Elza Lima (autora da foto acima), Waldemar disse considerar a praça: seu lugar preferido da cidade. Desde os nove anos, o maestro freqüentou a praça. É provável que tenha sentado muitas vezes no banco que ilustra essa reportagem durante os seus 80 anos de vida.
Passeando pela música e vida do maestro é possível enxergar um artista lírico, mas que tende ao popular e universal. Hoje Waldemar Henrique está sendo resgatado de várias formas, com vários ritmos, por um eclético grupo de artistas paraenses. Toni Soares, Maria Lídia, Andréa Pinheiro, Lu Guedes, Cravo e Carbono, Almirzinho Gabriel decidiram reler Waldemar Henrique.
O famoso Uirapuru na voz de Andréa Pinheiro ganhou uma roupagem funk-rap com pandeiro. "A gente achava que algumas músicas pediam outros ritmos, como o chorinho,
a valsa, o tango", diz a cantora, que gravou, em 2001, um Cd só com músicas do
maestro. Batizado de Fiz da Vida uma Canção, o Cd tem dezesseis composições de Waldemar Henrique, arranjadas por Floriano. Essas versões da obra de Waldeco
renderam quatro apresentações de Andréa e Floriano no Rio de Janeiro, no Teatro Café Pequeno e no Sesc Copacabana.
Almirzinho Gabriel também decidiu mexer em um outro clássico de Waldemar:
Boi-Bumbá. Originariamente um choro, o arranjador descompassou a canção. "Fiz
porque eu não vou falar como ele falava, nem pensar como ele pensava", explica o cantor, que classifica o maestro como "Luiz Gonzaga do Norte". A versão de Boi-Bumbá
de Almirzinho está no Cd Made in Pará 2, produzido pela cantora e compositora Maria
Lídia.
É bem provável que Waldemar tivesse gostado de ver os novos arranjos. O carnavalesco Luiz Guilherme Pereira, primo do maestro, lembra da veia popular do músico. Em 1974, Waldemar e o poeta João de Jesus Paes Loureiro escreveram o samba-enredo Marajó, Ilhas e Maravilhas, defendido pela escola de samba belenense Quem São Eles. A intenção de um grupo de artistas da época era procurar vincular "o carnaval paraense
a um sentido mais amazônico", recorda Guilherme Pereira.
Em 1985, foi a vez da Quem São Eles homenagear Waldemar Henrique com o samba-enredo Waldemar Henrique - O Canto da Amazônia. Guilherme Pereira lembra a frase de Waldemar durante o chuvoso desfile da escola. "Se as pessoas pudessem estar no meu lugar vendo tudo isso, ouvindo os aplausos da multidão, sentiriam que nada poderia ser mais bonito".
Em sua época, Waldemar não foi tão popular pelo caráter erudito de certas canções. "Naquele tempo, esse tipo de música não tinha tanta penetração nos meios de massa", conclui Andréa Pinheiro. O resgate de Waldemar Henrique mostra sua presença
na cultura paraense não como parte do passado, mas como fonte presente. Tão presente quanto o banco da praça da República que o compositor freqüentou dos 9 aos 81 anos de idade.
"Fiz da Vida uma Canção"
Waldemar Henrique nasceu em 15 de fevereiro de 1905 na ainda rica Belém do Pará. Morreu em 30 de março de 1985 na mesma cidade, passando por dificuldades financeiras. Além de canções, Waldemar também escreveu trilhas para peças teatrais e filmes. Foi integrante da Academia Brasileira de Música, secretário de Cultura do Estado do Pará, diretor do Teatro da Paz e da Escola de Teatro e Música da Universidade Federal do Pará (ETDUFPA), entre outros cargos. Na época em que morou no Rio de Janeiro, foram compostas algumas das suas mais populares canções: Tambatajá, Cobra Grande, Matintaperera.
Pela discente Luciane Fiuza de Mello
Resultado do Curso de Redação Jornalística, uma realização da Casa da Linguagem - Fundação Curro Velho. Orientador: Professor Luis Indriunas.