O Jornal pessoal é um único caso na história da imprensa brasileira contemporânea. É escrito por única pessoa. Não aceita publicidade. Sua venda é feita exclusivamente em bancas de revistas e em algumas livrarias de Belém do Pará, onde é impresso. Não usa cor e nem fotos. Os blocos compactos de texto são apenas suavizados pelas poucas ilustrações de Luis Pinto, irmão do diretor-editor-repórter-despachante-e-faz-tudo do periódico, Lúcio Flávio Pinto. Apesar de tantos fatores contrários, quase impeditivos, o Jornal Pessoal completou 20 anos em setembro de 2007. Mesmo para os padrões da imprensa alternativa, é um feito.
Este livro é uma tentativa de documentar as razões do surgimento de tão insólita publicação. Apesar de sua pobreza material, ela conseguiu se tornar uma referência em jornalismo e em Amazônia. Seus textos são citados em numerosos livros, científicos ou não, publicados a partir de 1987. Suas matérias circulam em clippings de empresas, de governo e de instituições de pesquisa ou de militância. Ignorar o que quinzenalmente sai no Jornal Pessoal significa abrir mão de uma das mais fecundas e acreditadas fontes de informações sobre a “ocupação” da Amazônia, a maior aventura dos brasileiros e de muitos estrangeiros neste último meio século.
Essa publicação amadora na aparência, em tamanho ofício, sem os recursos tecnológicos colocados à disposição pela indústria gráfica, representa uma atitude em relação à maior fonte de recursos naturais do Brasil e do planeta. Atitude de combate à elite predadora, que toma a esmagadora maioria das decisões sobre o uso desses recursos e os benefícios que e para quem eles irão gerar. O combate, contudo, não é voluntarista, à base de vazias catilinárias: os argumentos se sustentam em sólidos fundamentos e em numerosas provas. Pode-se discordar do que sai no Jornal Pessoal e polemizar com o seu autor solitário, mas não desmentir os fatos que servem de impulso ao seu raciocínio. Esta é a grande arma do jornalismo. E o Jornal Pessoal a utiliza exemplarmente.
Este livro registra os dois anos iniciais desse combate, travado com a arma da verdade e sob o clamor da indignação. Mostra que uma imprensa pobre pode superar a imprensa rica quando se trata de praticar o jornalismo radical, definido etimologicamente(e semanticamente) como aquele que vai às raízes dos fatos, que penetra na camada do cotidiano em busca do significado dos acontecimentos. Ou seja: da história. Nesses dois anos iniciais o JP conquistou espaço, que nenhuma outra publicação atingiu: tornou-se a mais autêntica voz da Amazônia. Um verdadeiro amazônida.
Por isso mesmo, os que se julgam os donos da região, dos seus numerosos recursos naturais, do seu povo e da sua história, vêm tentando calar de vez o Jornal Pessoal e o jornalista Lúcio Flávio Pinto. Este livro é mais uma contribuição para que essa voz continue a ser ouvida e persista no seu compromisso de dizer a verdade, doa a quem doer. Integrando-se, assim, à melhor tradição do jornalismo, no Brasil e no mundo, agora e sempre.(LFP).
Pinto, Lúcio Flávio.
Contra o poder – 20 anos de Jornal Pessoal: uma paixão amazônica/Lúcio Flávio Pinto. Belém: Edição do autor. Novembro. 2007. R$ 35,00. Nas revistarias.