É o próprio jornalista que faz referência à mitologia grega para descrever sua situação, comparando-se ao lendário personagem que tinha pedaços do fígado comidos diariamente por uma águia. Boa metáfora, já que um de seus desafetos chegou ao limite do absurdo: o agrediu fisicamente, incomodado com a verdade exposta no Jornal Pessoal (JP), escrito e editado quinzenalmente por Lúcio Flávio Pinto há quase 20 anos. Trata-se de Ronaldo Maiorana, empresário que o espancou publicamente em janeiro de 2005.
Para quem não sabe, Ronaldo é um dos propietários das Organizações Romulo Maiorana (ORM), empresa de Comunicação filial da Rede Globo no Estado. O empresário também é advogado e presidente da Comissão em Defesa da Liberdade de Imprensa da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Na época do ocorrido, a OAB manteve Ronaldo Maiorana na função, apesar do pedido de 40 advogados para excluir seu nome da presidência da comissão. O que despertou a coragem do empresário, que teve a cobertura de seus dois seguranças durante a agressão à Lúcio (um deles também bateu no jornalista), foi uma matéria do JP, intitulada O Rei da Quitanda.
O dono do dinheiro leu uma edição do meu pequeno Jornal Pessoal da 1ª quinzena de 2005 e ficou irado com o que nele estava contido a respeito de sua empresa e de sua família. Nenhuma inverdade. Nada sobre a privacidade dos Maiorana. Temas públicos, de relevante interesse social, explica o jornalista. Detalhes do caso estão no seu recém-lançado O Jornalismo na linha de tiro - de grileiros, madeireiros, políticos, empresários, intelectuais & poderosos em geral (Editora Jornal Pessoal). Essa, inclusive, é a minha atual leitura, que tem a singela dedicatória que recebi do autor.
Outras passagens da vida do jornalista, que foi correspondente do Estadão no Pará, são relatadas na entrevista da Rolling Stone, simplesmente imperdível. Profundo conhecedor da problemática da Amazônia, ele cobriu por muito tempo diversos conflitos fundiários em suas viagens ao interior do Estado. Algumas fotos destes momentos também estão na publicação.
Depois de ler a revista, fiquei me perguntando qual será realmente o combustível de Lúcio Flávio Pinto? Ele dá boas pistas no prefácio do seu livro. Nosso oxigênio é a verdade. Sem letra maiúscula, sem grandiloqüência, sem heroísmo. (...)A causa é uma só: a opinião pública. Se cumprimos decentemente nosso ofício, somos seus auditores, seus porta-vozes, seus emissários. Por nosso intermédio, é o povo que quer saber. (...)É este o jornalismo que tenho feito. Nasci para fazê-lo. (...)Mas escrevendo este livro em meio a uma guerra judicial, tentando escapar ao destino de Prometeu tropical, isto é o que pude fazer, na urgência e na emergência de fazer a verdade. Isto é apenas isto. E carrega consigo minha alma, meu coração e, quem sabe, o hálito do meu amor. A matéria prima que me mantém vivo e revoltado, que me faz acreditar no futuro e trabalhar pela utopia.
Fonte da foto: http://www.igutenberg.org/jj343x1.html