10 DESEJÁVEIS VIRTUDES PARA A POLÍTICA CULTURAL DO PT NO ESTADO
Sétima virtude: Produção e veiculação Artista quer produzir e veicular suas obras.
Texto: Cláudio Marinho, ator e jornalista.
Endereço do blog do autor: Na Cena de Cláudio Marinho
Artista quer produzir e veicular suas obras.
Por Cláudio Marinho*.
As eleições sempre provocam uma reflexão mais intensa sobre os rumos que a administração pública vai dar à saúde, à educação, à cultura e a outras necessidades do povo. Infelizmente a discussão, na maioria das vezes, se restringe às divergências partidárias e pouco se fala de programas de governo. Como as eleições já passaram mesmo, torna-se mais pertinente ainda ir direto ao assunto: artista quer ter meios para produzir e veicular a sua obra. Parece óbvio e é mesmo.
A discussão parte desta conclusão óbvia porque os artistas, em sua maioria - exceto aqueles eleitos pelos departamentos de marketing de empresas que concedem patrocínio - sequer têm verba para iniciar a sua produção. E quando o trabalho está pronto, começa a peregrinação em busca da veiculação da obra e da divulgação quase sempre deficiente. Quanta solidão!
Não falo que é papel do governo assumir uma postura paternalista. Não é isso. Digo que o governo tem, sim, o papel fundamental de estimular a produção e veiculação artística, principalmente estimular a pesquisa que traz resultados inovadores e nem sempre comerciais. O governo tem, sim, o papel fundamental de apresentar a arte ao povo que quase sempre está mais preocupado com a própria sobrevivência.
Não basta estimular o turismo e arrumar as fachadas das cidades. É preciso zelar pelo povo, educá-lo, dar-lhe acesso à cultura, estimular o pensamento. Só assim formaremos uma sociedade realmente democrática e que possa, num futuro próximo, assumir perante o mundo a grande responsabilidade de ser uma sociedade amazônica, preparada para defender seus interesses.
O governo deve ter, sim, o compromisso com os artistas que são o maior patrimônio da cultura paraense. Este artista é agente de toda a reflexão, é veículo da criatividade, é o que propõe o novo. Não estimular e valorizar o artista é - com certeza - o posicionamento político mais perverso. É assumir - mesmo que não declaradamente - a falta de interesse em ver as transformações necessárias. Este compromisso não deve se resumir a disponibilizar uma lei de incentivo cultural e deixar que o artista estenda o pires aos diretores de marketing das empresas, implorando por patrocínio.
O Pará tem uma atividade artística singular, que fervilha idéias. O nosso Estado tem uma diversidade musical como se vê em poucos lugares, que transita da música de raiz até o rock, que cada vez mais ganha destaque nacional; o Pará tem um time de fotógrafos premiados internacionalmente pela sensibilidade e capacidade de fazer trabalho autoral; quanta inventividade nas artes plásticas, sintonizadas com a arte contemporânea; o Pará tem escritores incríveis como Dalcídio Jurandir e Maria Lúcia Medeiros que ainda não ocupam o lugar merecido na literatura brasileira; o Estado tem guerreiros do teatro e da dança em suas salas de espetáculos; tem guerreiros nos sets de filmagem que insistem em fazer cinema na Amazônia, mesmo sem condições para isso. Volto aqui, ao ponto de partida: estes artistas querem meios para produzir e veicular suas obras.
É preciso mesmo retroceder ao ponto de partida: produção e veiculação. Depois disso podemos direcionar a discussão para outras questões. Infelizmente o Pará (que num samba enredo foi chamado a 'obra-prima da Amazônia'), com todo o seu potencial artístico, ainda está no ponto de partida. Mas, graças aos teimosos artistas, está pronto para dar a arrancada!
Cláudio Marinho é ator e jornalista paraense. Radicado há dois anos em São Paulo, trabalha no teatro e edita o site Na Cena de Sampa - www.nacenasp.com - que divulga a produção teatral paulistana.
Ps: A crônica acima foi publicada em 11 de novembro de 2006 no jornal "O Liberal". As fotos de Cláudio atuando no teatro e no cinema foram retiradas do blog do ator; a arte da montagem é de Alex Padarath.