Entranhas da Sociedade foi o tema da exposição de arte contemporânea dos alunos do primeiro ano do Ensino Médio do Núcleo Pedagógico Integrado (NPI) da UFPA atualmente denominado Unidade Acadêmica Especial (UAE). Ocorrida no dia 12 de janeiro, a exposição ocupou as dependências do NPI com os mais inusitados trabalhos, que tomaram até o espaço dos banheiros da escola. Nas instalações dos alunos-artistas, os mais diversos materiais e tecnologias foram utilizados para falar das mazelas da sociedade contemporânea. A organização do evento, que reuniu seis turmas do primeiro ano, foi de Junia Barros Vasconcelos, professora de artes.
Junia explicou que os alunos elaboraram os trabalhos a partir de uma visão crítica da sociedade e do homem contemporâneo, através do manuseio de materiais do cotidiano, como discos de vinil, flores de plástico, bolas de isopor e outros. Eles atribuem a este material um novo valor, um novo conceito, explicou. Nos trabalhos mostrados foram utilizadas diversas linguagens: objeto, vídeo-arte, instalação e fotografia.
Uma das instalações da exposição chamava a atenção de quem passava: um quarto montado com lonas de plástico, música em alto volume e jogos de luz. A quentura do ambiente, segundo os alunos, também mexia com os sentidos dos visitantes. Outra instalação ocupava um dos banheiros da escola e falava sobre a violência contra as crianças. Denominada Tempos Corrompidos, essa criação fazia referência ao caso dos meninos emasculados de Altamira, caso que tomou repercussão nacional entre 1989 e 1993 crianças foram encontradas mortas; os crimes foram motivados por rituais de magia negra. Falamos não só desse tipo de violência, mas também a violência psicológica, das crianças que ficam sozinhas em casa enquanto os pais saem para trabalhar, detalha a aluna Larissa Salgado. Símbolos desenhados nas paredes lembravam inscrições de rituais satânicos, assim como as velas vermelhas espalhadas pelo ambiente.
O Bolo de Mulher era outra instalação que se destacava. Instalado no corredor externo da escola, o bolo era formado por diversas fotos de mulheres famosas ou não. Ao redor do bolo, muitas fitas coloridas completavam o ambiente, que destacava a sensibilidade e a alegria da mulher. Já a criação Reflexões Capitalistas, de acordo com aluna Cíntia Quaresma, tem muitos símbolos, como a boneca, que representa uma prostituta que veste o Capitalismo. Ela pensa que faz parte da elite, mesmo sendo uma prostituta, mesmo tendo um espelho na sua frente refletindo sua real condição. Ela não consegue perceber a contradição de sua condição, comentou Cíntia. Ela comenta que alguns detalhes da obra mostram esse paradoxo, como a favela e os prédios. A pirâmide quebrada, de acordo com Cíntia, representa a hierarquia da sociedade capitalista.
Isis Antunes, Márcia Chaves e José Farias foram os professores responsáveis pelo julgamento do melhor trabalho da exposição. Os trabalhos estavam muito bons, bastante criativos, ressaltou Márcia. Além da criatividade, segundo Ísis, as criações foram muito críticas e voltadas para o social. Junia Vasconcelos destacou a participação do professor Farias. Ele, que é sociólogo, é muito motivador, sempre participa destes eventos com os alunos, falou Junia, lembrando que o nome do trabalho vencedor será revelado
Fotos: Junia de Barros Vasconcelos.