Da bala que atravessa a carne
Da cigarra que canta seu desejo
Da jovem que escreve uma poesia e
Da canção que enternece o peito;
Do orgulhoso que aprendeu a perdoar
Do fogo que do frio nos salva
Do medo no ultimo momento... E
do anseio do amor sem ressalvas;
E da dor da’ngústia em meu peito
E da dificuldade de alcançar meu epicentro
E da agonia e desespero
Por me saber ser humano!
Apesar de toda minha saudade:
Oh mãe! Oh irmãos! Oh irmãs!
Apesar de todo meu desconforto em ser brasileiro:
Brasil às margens da ordem e progresso!
Apesar do Brasil e
Da bala,
Apesar do amor e
Das ressalvas
Eu,
Eu quero dançar um tango!
Deixar a vida a mim se mostrar
Canção que surpreende, embalada,
Suor que’scorre na carne e acalma
Braços da intuição e sobriedade em farra.
Não será a guerra a me extinguir ou
A falta do pão a me enfraquecer e
Mesmo que a amada de imediato não venha
Serei em mim mesmo a lenha
Que acalorará toda minha ambição.
Jorre, vida! Jorre!
Por todos os fins e flancos!
Seja-me a final irresistível
Tanto quanto mais ardo por me reinventar em ti!
Jorre, vida! Jorre!
Pois farei arte ainda que sobre o cadáver de Deus
Dançar ballet no quente do asfalto
Amar alguém como um cego ama a luz!
Jorre, vida! Jorre!
Até quando as minhas juntas despregarem,
Pois nada me levará deste mundo
Ate que’u dance meu ultimo tango!
Alexandre Valêntulus