Simplesmente Lu

Abril 30 2010

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O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir, tocar no mundo.

O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo, estou pensando."

Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.

O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem.

Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas.

O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver.

O bobo parece nunca ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.

Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era que o aparelho estava tão estragado que o concerto seria caríssimo: mais vale comprar outro.

Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranquilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado.

O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu. Aviso: não confundir bobos com burros.

Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?"

Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!

Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.

O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação, os bobos ganham a vida.

Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.

Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!

Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas.

É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.

 

("Das vantagens de ser bobo" - Clarice Lispector)

publicado por Luciane Barros Fiuza de Mello às 15:35
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Abril 28 2010


Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda, que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes da vida.

- Clarice Lispector -

 

PS: retirado do blog da minha amiga Lorena Filgueiras, o Tomato & Potato

publicado por Luciane Barros Fiuza de Mello às 00:16

Abril 12 2010

Publico mais uma poesia da Rosana Künh, essa jovem poetisa que já demonstra muito talento e bom gosto.

Para a apreciação de todos, "Digno coração":

 

 

Se não posso ter seu coração
Nada mais me serve
E ao me dizer isso
Por favor
Não sejas educado; magoe-me
Nem elegante; maltrate-me
Muito menos gentil; despreze-me
Para que seu “eu” se dissolva em mim

E quando me encontrares pelas esquinas da vida
Não é necessário dizer: “olá, minha amiga”
Para que eu saiba meu lugar
Porque já sei que não me encaixo em você

Poupe-me de imaginar
Meu amor te constrangendo
Meu toque a te repugnar
Que o “meu” mais puro faça-te sentir poluído

Absolvo-te da inexistente culpa
Sei que nem teu ego mais se envaidece
E, por fim, não me puna com tua pseudo-piedade e ternura
Porque meu coração é surdo para muitas palavras
Mas estremece e se arrepia quando te vê
publicado por Luciane Barros Fiuza de Mello às 14:17

Abril 11 2010

BALÉ DO INFINITO DESEJO


Vaga música, acordes para além
Dessa melodia de corpos e peles.
Danço, face a face com o desejo.
E sinto o que se levanta e encanta
E me toca... Rasgando com dentes
E unhas minhas costas, pernas e
Ferida, penetra frinchas com luz.
Ecos de mim atravessando olhos,
Em vaga música, em passos com
Coreografia de bocas e mãos, de
Pés e ombros... Balé do infinito, te
Sinto no som do vento. No pulsar
Pungindo meu prazer... Cadência
Perfeita, encontro de ritmo e ser
Morrendo no compasso de viver.

Karla Bardanza

publicado por Luciane Barros Fiuza de Mello às 22:03

Abril 03 2010

 

Idade, virtudes, pele

Cortes de açougue

Como conceber pessoa repartida?

Ignorância, preconceito, mesmice

Babaquice

Pitada de tudo um pouco

Olhar, emoção, humor

Toque, cheiro, sedução

Sou inteira mulher, “sô” gente

Arriscando-se no abraço do homem que vê

Completo bandido mocinho ranzinza

Fracionado aos míopes de sabedoria

Se me preocupo com números? Lógico!

Com inúmeros beijos e risos

Incontáveis

 

(Rosana Kühn)

publicado por Luciane Barros Fiuza de Mello às 16:28

Março 15 2010

    Porque 14 de março é o "Dia do Poeta".
                                                                 Porque ele é o meu poeta preferido.

                                                                                               Parabéns, Lex!!! Lu.

 

O Pequeno Bohêmio

 

Sua existência é um problema

A condição social um mito

O destino um enigma,

Faminto hoje

Opulento amanhã,

Lança dados contra Deus

E o Diabo também.

 

Levanta cedo pronto pra

Viver honestamente ou

D’outra forma que não puder;

Exerce cinqüenta profissões

Luta para superar as barreiras

Que a pobreza erigiu contra

Suas talentosas vocações:

Sua existência é obra de gênio.

 

Filho d’um mundo pós-moderno

Herdou dele a fé nas virtudes;

Não aceita ser situado em algum lugar

Pertence apenas as suas esperanças que

Do coração quer compartilhar

Com alguém que lhe faça descansar

Do seu problemático trabalho de ser

Alguém de vida.

 

(Alexandre Valêntulus)

 

FONTE: poemasvalentulus

 

publicado por Luciane Barros Fiuza de Mello às 01:05

Março 14 2010
( a noite tem feito a sua teia )

 

(a noite tem feito a sua teia); Mariah olhares.com

 

e por vezes as noites duram meses

e por vezes os meses oceanos

e por vezes os braços que apertamos

nunca mais são os mesmos e por vezes

 

encontramos de nós em poucos meses

o que a noite nos fez em muitos anos

e por vezes fingimos que lembramos

e por vezes lembramos que por vezes

 

ao tomarmos o gosto aos oceanos

só o sarro das noites não dos meses

lá no fundo dos copos encontramos

e por vezes sorrimos ou choramos

 

e por vezes por vezes ah por vezes

num segundo se envolam tantos anos

 

( david mourão-ferreira )

publicado por Luciane Barros Fiuza de Mello às 03:55

Março 08 2010

 

Mulher, sublime escultura,
luz do sol banhando a serra,
a mais bela criatura
que Deus deixou sobre a terra!

Seja mãe, educadora,
artista ou coisa qualquer,
há sempre uma lutadora
sob o nome de MULHER!

Minha emoção não disfarço,
pense lá o que quiseres;
salve dia Oito de Março,
viva a todas as mulheres!
 

 (Antonio Juraci Siqueira)

 
fátima condenço - olhares.com
publicado por Luciane Barros Fiuza de Mello às 12:00

Março 06 2010
31.01.2010

 

Surge feminina tão sedenta ninfa vampira

Sorriso certo e olor cítrico que me mira

Atrai minhas mãos a maciez, arteira menina,

Deslizar, apertar afundar sutil forte sua sina.

Chegam suas brasas loucas se refrescar na volúpia

Beber de minha’lma tão demente da sede tua;

Enxergo-me no teu olhar, vitrine imploro, ditadura

Da cintura tão nua inquieta vulva derrete e pula.

Lisa língua insana serpenteada molhada busca

Severa brandura d’um membro enervado que lhe abusa,

Dama fera aperta-o em ponta unha-esmalte e suga

Tão louca derretida pede; desesperada; se lambuza.

E gospe; beija; morde; engasga, ébria

Sentada em seu trono confortada na rigidez

Gulosa enterra canta geme tão eril sua ária

Cintura pernas, profunda e úmida insensatez.

Viciada em suspiros me governa qual um rei!

Rebola cintura cremosa curva que me dei!

Criminosa fada louca da espuma qu’em ti chove!

Pequena boca tão gulosa, fera louca que’ngole!

 

FONTE: Blog Poemas Valêntulus

 

PS: ganhei este presente do Alexandre, que me deixou surpresa e encantanda. Nunca recebi algo que mexesse tanto comigo como a Insana. Obrigada, mais uma vez.

publicado por Luciane Barros Fiuza de Mello às 15:39
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