Fafá de Belém. Foto: Tamara Saré
Que tal ouvir Fafá de Belém interpretar 'Coração de Estudante' com Wagner Tiso ao piano? Emoção diretamente proporcional a de presenciá-la dividindo o palco com Cristovão Buarque em 'Resposta ao Tempo'. Ou ao prazer de ouvir a guitarrada gostosa do mestre Manoel Cordeiro em sintonia com o som das guitarras portuguesas de Nuno Miguel Botelho e Hugo Filipe Gamboias (foto) no palco do Teatro da Paz.
Ora, pois pois, mas com certeza essa não é uma casa portuguesa. Não é. O Da Paz é uma casa de espetáculos centenária localizada em Belém do Pará. Foi lá que grandes músicos se reuniram na noite desta quinta-feira, 9, no espetáculo Fado Tropical, que apresentou Fafá de Belém e convidados.
Fafá mostrou que é de Belém, do Pará, do Brasil, de Portugal e do mundo.
Fafá e seus convidados cantaram a universalidade da música em repertório diversificado onde nada foi lugar comum: erudito, popular, regional se misturaram e combinaram em ponto e contraponto.
Seu conterrâneo, o saudoso Waldemar Henrique, já havia demonstrado que a receita dá certo quando há música de qualidade.
É o que Waldeco reafirma a cada interpretação e releitura feitas de sua obra. Prova disso é o impecável 'Uirapuru' na voz da cantora lírica Gabriella Florenzano e o singelo 'Tambatajá' na interpretação tocante de Fafá de Belém.
E o que falar do 'Foi Assim' de Paulo André e Rui Barata? Esse clássico (ou popular?) do repertório da cantora fechou o espetáculo com a participação de todos os músicos.
Músicos jovens e experientes, de diversos estilos e origem, formaram o elenco, tão plural quanto a plateia do teatro, lotada de paraenses e turistas brasileiros e do exterior que visitam o Pará no Círio de Nazaré, festa de devoção à padroeira dos paraenses.
Com sua voz arrepiante, energia e talento, Fafá cantou para a sua padroeira “Ave Maria”, de Schubert, em ritmo de bossa nova (ela pode!). Os céus também aplaudiram Fafá em “Azulão” e Gabriella Florenzano (foto) em “Um Poema de Amor”.
A plateia fez coro durante as canções mostrando que Jaime Ovalle e Wilson Fonseca estão presentes no imaginário coletivo. Tão presentes quanto o “Trem Caipira”, de Gismonti, com sua força que nos desloca no tempo e no espaço. É o poder que a música têm de nos emocionar diante de uma obra de arte.
O Fado Tropical, de Chico Buarque, na voz da diva Fafá, fez muitos fecharem os olhos e, sinceramente, chorarem: 'ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal...'
Fafá cantou, papeou, dançou, encantou, riu, rodopiou e conduziu com maestria cada música apresentada, cada convidado e momento do espetáculo, aberto por ninguém menos que Sebastião Tapajós e seu violão mágico.
Entre um número e outro lá vinha ela jurando com 'pavulagem que pegou uirapuru' e que 'foi boto, sinhá'. Fafá também falou 'do lobisomen, da mãe-d'água, do tajá, disse do juratahy que se ri pro luar'... Égua, que cabocla faladora!
Maria de Fátima Palha de Figueiredo é a Fafá, que é do mundo, mas carrega Belém no nome, na alma e no coração.
O Fado Tropical é um show que passa como um trem lotado de luzes, sons e talentos pungentes: estrelas da música brasileira e portuguesa. Ícones da música paraense com suas raízes múltiplas.
Nessa viagem de tempos e contratempos, embarcaram, ainda, Márcio Malard (violoncelo), Davi Amorim (guitarra), Adelbert Carneiro (baixo), Trio Manari (percussão) e Esdras de Souza (sax/flauta).
Na direção musical estava o múltiplo Luiz Pardal, que dispensa apresentações.
Ah, também tinha muita gente bonita do lado oposto do palco, aplaudindo essa grande festa da Fafá de Belém: a atriz Dira Paes, o músico Paulo André Barata, o padre Fábio de Melo...
É tanta arte, beleza e falação, que nem dá pra explicar. É melhor deixar isso pra lá!
Luciane Fiuza
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Fotos: Tamara Saré/Secult